Querido Pessoa, a poesia mais do que nunca tem me salvado. Encontro refúgio nas palavras. O mundo lá fora não tá fácil. Há mais de dois meses estou em casa. Posso contar nos dedos os dias que saí para reabastecer a geladeira. Vou confessar que mesmo essas poucas saídas não são mais como antigamente. Já se fala até num tal de ‘novo normal’. Que ninguém sabe ainda como deve ser. Mas, temos pistas. Hoje convivemos com um inimigo invisível e poderoso e dizem que vamos ter que conviver com ele por um bom tempo. A sensação de insegurança e medo é grande. Por isso, o lugar mais seguro é dentro de casa mesmo. Hoje, mais do que nunca, não sabemos o que tem “para além da curva da estrada”. Hoje convivemos também com outra curva. Uma curva assustadora que como uma onda cresce, leva as pessoas e deixa rastros de tristeza. Hoje, mais do que nunca, vejo como faz sentido o que o Alberto escreveu: “importemo-nos apenas com o lugar onde estamos, há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer”. Repito isso para mim como um mantra e busco a beleza nas pequenas coisas que estão ao meu redor.
A Martha disse certa vez que “a beleza é o alívio para a desesperança”. E o Rubem foi mais ousado, aquele danado que eu tanto amo e que deve estar aí do seu lado. Para ele, “a beleza é a face visível de Deus”. Eu concordo com os dois. E acho que você também concordaria.
E assim eu sigo. Acreditando no que vocês disseram, me nutrindo de palavras e beleza. Vivendo um dia de cada vez. Pois, a única coisa que é certa, é que “aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva há a estrada sem curva nenhuma”.
Espero que esteja bem onde estiver. Mande um abraço para o Rubem.
Com carinho,
Carla
(Referências ao poema ‘Para além da curva da estrada’ de Alberto Caieiro (heterônimo de Fernando Pessoa), ‘Beleza’ crônica de Martha Medeiros e ‘A beleza dos pássaros em voo…’ crônica de Rubem Alves)
Aceitei a proposta que a Dani da @waau.ideias fez durante a Live sobre o poder da palavra escrita. Agora é a sua vez! A ideia é escrever uma carta para seu escritor preferido ou algum personagem de uma história contando como está sendo esse período de pandemia e isolamento social. A minha carta foi para o Fernando Pessoa. E você para quem gostaria de enviar uma carta?
Olá querida Carla
Gratidão por sua decisão de compartilhar tantos tesouros…quero ser igual a ti, quando crescer, pois como disse o poeta:” só tenho 59 anos e muita infância pela frente.” Kkkk
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