“Os livros me davam asas que me levavam para fora da prisão”

Gregório Andrade sempre gostou de ler. Como muitos jovens brasileiros devorou a Coleção Vagalume. Se tornou advogado. Essa poderia ser só mais uma história de sucesso de um jovem leitor. Mas, essa é a história do ‘Greg’ – como prefere ser chamado – que viveu 16 anos cumprindo pena nos presídios brasileiros e encontrou nas páginas dos livros as asas que precisava para voar alto e para bem longe das grades.

“Quando eu lia, as páginas dos livros me davam asas e essas asas me levavam para fora da prisão”, conta Greg. “

“Quando eu lia Eça de Queiroz, em ‘O Primo Basílio’ eu estava no Alentejo. Quando eu lia ‘Notícia da casa dos mortos’ de Dostoiévski eu estava nas prisões da Sibéria. Quando eu lia ‘Gabriela Cravo e Canela’ eu estava em Ilhéus no sul da Bahia”, afirma o advogado.

No entanto, o acesso aos livros no interior das penitenciárias brasileiras não é fácil e a sede de ler fazia com que ele lesse de tudo. Mas, sua paixão sempre foi a literatura. Por isso, sempre que podia solicitava que a família lhe enviasse livros, enquanto a maioria dos apenados pediam comida, já que a qualidade da comida não era das melhores.

Pelas regras das instituições carcerárias existe um limite de peso por encomenda que cada detento pode receber, por isso Greg relata emocionado que “trocava a comida por livros”.

Com toda essa fome, Greg acabou devorando muitos livros ao longo dos 16 anos cumprindo pena. O seu alimento preferido nesse tempo foi o clássico ‘Crime e Castigo’, romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski, que Greg leu três vezes no período em que cumpriu pena.

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Gregório Andrade durante palestra no primeiro Fórum Brasileiro de Bibliotecas Prisionais, em Vitória no dia 03 de outubro 2019

Das cartas às petições

Além de ler, Gregório sempre gostou de escrever. E passou a escrever cartas para os colegas enviarem para as famílias, esposas e namoradas. Mas, foi um pedido inusitado de um colega que o fez vislumbrar a possibilidade de se tornar advogado no futuro. Dessa vez, a carta seria destinada a um juiz. E a partir daquele momento ele começou a estudar sobre leis e todo o universo do Direito.

Sobrevivente do Sistema Prisional Brasileiro, Greg fez supletivo para concluir os estudos, se formou em Direito, é membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG e tem um escritório de advocacia especializado no atendimento de pessoas em situação de privação de liberdade e a seus familiares (site Greg Andrade Advogados Associados).

Além de tudo isso, viaja o Brasil proferindo palestras. E foi durante o I Fórum Brasileiro de Bibliotecas Prisionais que tive o prazer de ouvir a sua história. História que precisa ser contada e que compartilho um pouco com você.

A palestra completa está disponível na página do Facebook da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais e você confere clicando aqui. 

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